segunda-feira, 4 de novembro de 2019

ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE POETAS/PE E ALAG OUTORGAM PRÊMIOS LITERÁRIOS DO CONCURSO ADEILDO NUNES - 2019

1º, 2º E 3º LUGARES DE POESIA





1º, 2º E 3º LUGARES DE PROSA POÉTICA







DIA DOS MORTOS NA AMAZÔNIA




NARRAÇÃO
            Silêncio no igarapé. Começando a madrugada. A água escura, marrom pela acidez da decomposição das folhas, porém, translúcida, (semelhante a uma garrafa de vidro marrom), fria, refletindo as primeiras luzes do amanhecer que conseguem atravessar a fechada folhagem da mata gigante.
            Uma neblina de evaporação sobe desde as áreas inundadas. O ambiente se sente opressor pela sua grandeza, pelo seu isolamento e é nesse misterioso amanhecer que os indígenas chamam os espíritos de seus mortos, com sons rítmicos. Espíritos que permanecem na floresta e que têm o poder para influenciar os bons e os maus, trazendo paz a uns e amaldiçoando os outros.
            A tribo respeita e ao mesmo tempo teme os espíritos dos mortos. Toda a sua crença no mundo espiritual se identifica com a mata circundante, seus sons, seus mistérios e a profundidade horizontal à frente, que entre troncos e cipós parece não ter fim.
            As lendas são muitas; têm espíritos que levam crianças antes mesmo de nascerem, outros provocam deformações, outros atacam idosos que sofrem, claudicam e desaparecem levados por eles, outros trazem chuvas torrenciais, que têm poder quase exterminador, obrigando a tribo a ficar protegida dentro das malocas. Os indígenas entendem estes fenômenos naturais como um castigo para aquele que tenha cometido transgressões contra o código de ética da tribo, ou contra seu Cacique, Pajé ou Xamã.  
            A Amazônia é misteriosa para seus habitantes naturais, e para nós duplamente assustadora.
            Os sons emitidos pelas espécies animais são variados: são agudos, graves, gritos, gemidos rítmicos e cadências estridentes. Centenas de macacos emitem um clamor exasperante, junto a cantos afinados de pássaros exóticos. A mim, particularmente, me afeta este concerto estranho e ensurdecedor. Começo a sentir um desassossego esquisito que se inicia no “ouvir” e que logo após se espalha pelo meu corpo e mente, até dominar meu raciocínio lógico, fazendo-me tremer de pavor irracional.
            Parece-me que os mortos estão perto, flutuando entre a folhagem. Sem entender muito os motivos, começo a imitar as mulheres indígenas, e a seguir seus rítmicos cantos batendo ao mesmo tempo, com os pés descalços no solo místico da floresta, que se ergue poeirento no descampado ao redor da taba.
            Esta experiencia atemoriza-me e me leva a outros níveis de consciência. Pergunto-me quem sou, qual é o recanto desconhecido de mim mesma que aflora neste instante sem eu saber porquê, sem explicação racional alguma, transfigurando-me em um ser totalmente instintivo, alheio à civilização e a séculos de aculturação impressa nos meus genes. Transformo-me em alguém diferente, que absorve os mistérios selváticos pela pele, pelo ouvido, pelo pensamento que se acalma e adormece. Sinto minha alma avolumando-se e dominando totalmente meu corpo e pensamento.
            O sol vai ganhando altura. A floresta se ilumina com os raios solares que se filtram através do teto rendado verde escuro, vegetal. Os macacos silenciam pouco a pouco, os pássaros assobiam musicalmente, os jacarés submergem tranquilos e desaparecem, e os insetos começam sua dança infernal.
            Os mortos acalmam-se, calam-se, agradecem o cerimonial prestado em sua honra e vão se retirando do local. O grupo de indígenas, livre da influência dos seus antepassados, entra no igarapé gelado e toma banho. Cada um deles limpa a sujeira de seu corpo e de seu próprio espirito. Relaxa, rir, brinca e tudo no ambiente volta ao normal.
            As Vitórias Regias (Vitória amazônica) que abriram suas corolas à noite liberam seu adocicado perfume, e com o sol vão fechando as suas flores pouco a pouco. entre as grandes folhas circulares flutuantes com uma dobra na borda de cor avermelhado. Os Aguapés ou Jacintos de Água, (Eichhornia crassipes) mostram toda a beleza de suas flores azuis e seus pecíolos bulbosos, como esponjas, que lhe permitem flutuar e cobrir a superfície aquática.  Na altura de Mognos e Sumaúmas as bromélias encantam com seu esplendor rústico e selvagem. O pássaro ferreiro, Araponga da Amazônia, nos arredores do Rio Negro, canta. E seu canto tem um som igual ao de um martelo batendo numa bigorna. Parece-me um sino de um golpe só. 
            A floresta respira, vibra, vive seu dia de glória e paz depois da homenagem aos seus mortos tribais.
            Eu apenas faço uma oração de agradecimento ao bom Deus, que me trouxe até aqui, o que me permitiu participar dos mistérios desta “terra brasilis”. (Dea Coirolo – 1991-AM)

Dea Coirolo – Copyright
Gravatá, PE/2019

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

MEMÓRIA DE MINHA INFÂNCIA





MEMÓRIA DE MINHA INFÂNCIA

Uma memória da infância, das mais belas e prazerosas, aparece na foto que ilustra este relato. Meus pais levaram a Norma e a mim, para passear no Cerro de Montevideo. Fomos de piquenique, com comida fria preparada pela mamãe. Lembro das milanesas crocantes, douradas, dentro de fatias de pão caseiro, com grossas rodelas de tomate americano bem maduro, bem vermelho, suculento e com sal. Lembro da alegria de compartilhar o almoço, com a família unida, rindo, conversando e festejando o momento mágico.
Do Cerro, à margem do Rio da Prata para o sudeste, víamos toda a cidade, a baia, o porto com grandes navios e o prédio da aduana. Para o sudoeste, o Cerro desce até quase às águas do rio, e assim se formam pequenas praias de areias branquinhas muito finas, com manchas coloridas de pequenos barcos de pescadores, que naquela época (aproximadamente no ano de 1952/53) tinham suas vilas muito perto.
Alguns salgueiros “chorões” botavam na paisagem seu encanto verde, de longe em longe, espaçados... descendo para a prainha, ainda no Cerro, muita pedra, muito canto rodado, que juntávamos para brincar. Papai nos fez olhar para o topo do Cerro, e lá tinha uma construção branca, de grandes rochas na base, o Forte, monumento histórico que fazia voar nossa imaginação. Lembro que papai me falou que dali se vigiava a chegada dos navios e que antigamente havia canhões para a defesa da capital.
Eu achava meu pai muito bonito, e acreditava que ele sabia de tudo. As gaivotas sobrevoavam o Rio da Prata, e uma grande ave passou perto de nós. Ele gostava de nos ensinar sobre os mistérios da natureza, e um dos temas que lhe fascinava, era a época dos dinossauros. Vendo a gaivota, disse-me que ela, muito tempo antes, tinha um antecessor chamado “Pterodáctilo”, com asas de couro, sem penas, enorme, com um bico gigantesco. Eu era uma menina curiosa, sonhadora, e logo imaginei aquele animal esquisito da pré-história. Rimos muito, tanto minha irmã como eu tentando repetir o nome do bicho. Ele deu uma gargalhada sonora que fez eco na altura, e nos dando uma mão a cada uma, foi nos cuidando amorosamente para não cair na descida do Cerro.
Mamãe era sempre a fotografa da família. Tinha uma maquinha preta, como uma pequena caixa, que usava com excelente resultado. Ela adorava registrar momentos da vida da família, e rindo, pediu a papai para deter-se, e ela descer um pouquinho para fazer uma foto desse momento inolvidável, quando vimos pela primeira vez que as aves se originaram daqueles répteis voadores. Papai nos parecia um sábio... mamãe tirou essa foto tão linda dele conosco, suas filhinhas, Moñita e Deita.
Finalizamos o passeio à tardinha, devorando “pasteis folhados”, recheados de goiabada, que mamãe fazia como ninguém, e nos refrescando com um copo de coca cola. Eles dois tomavam chimarrão amargo, para contrastar com a doçura dos pasteis. Assim, guardo na memória afetiva esta foto de nosso passeio ao Cerro de Montevideo, de nosso lindo e sabido pai, e das iguarias que mamãe preparava para deleite de todos nós.
Esqueci de dizer que ela tinha feito esses vestidinhos preciosos que vestíamos, com florezinhas e rendas de cor celeste o de Moñita, e com cerejas estampadas, o meu, e que ela tinha forrado com linha de seda vermelha, umas bolinhas de madeira, imitando cerejas, que pendiam de um cordãozinho verde. Eu adorava ver o movimento das cerejinhas de madeira. Este vestido foi um dos que mamãe me fez e que nunca esquecerei.
Minha irmã Norma e eu, tivemos uma infância feliz, graças a Deus, e a eles dois. Que o Senhor lhes guarde juntos, como tanto desejaram...

Dea Coirolo Copyright
14/08/2019
Gravatá - PE

segunda-feira, 3 de junho de 2019

HAIKU - INVERNO


HAIKU – Dea Coirolo 



INVIERNO

Nº 38
Invierno blanco
deshojados árboles
esqueleticos.



Nº 39
Vuelo vertical
Peces en el pico de
belas gaviotas.



Nº 40
Bajo la lluvia
la  mujer carga leña 
invierno crudo.


Nº 41
Madera seca
pesa en la espalda
frio, anciana.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

XIQUE-XIQUE* NA SERRA DAS RUSSAS


Poema de Dea Coirolo - XIQUE-XIQUE NA SERRA DAS RUSSAS




Chove e o agreste reverdece
explode nos delicados cactos
onde fortes espinhos aparecem.
Os “sete dedos” brilham,
sustentam uma rede
de translúcidas gotas.
Destacam-se por sobre os granitos
pontos de cor magenta,
roxos e amarelados,
cobrindo os alcantilados
misteriosos e escuros
nas alturas da serra.
Flores...
Flores quase vermelhas, quase violetas,
pontos que mudam de cor,
pequenas asas de borboletas
fulguram à luz do sol. 
Xique-xique, conjunto vertical
de obeliscos hirsutos verde vivo.
Cactos antigos crescendo na Russinha,
rígidos, pré-históricos, estáticos,
vegetais vilosos e selvagens
que a seca não consegue exterminar.
Gloriosa hoje a chuva que lhes faz
espetáculo, pintura e muito mais.
Natureza em flor, impressionismo.
Sacrossanta viagem até a cor.
Em êxtase contemplo esta paisagem,
e um profundo suspiro de deslumbramento
escapa da minha alma de mulher,
que vagando no agreste encontra
beleza colorida em um lugar qualquer.
Eu sinto pulsar meu coração nesta terra
e prego meus pés no chão pernambucano.
Talvez no tempo de desencarnar
eu seja um espírito errático, arcano,
e voe como galo de campina
neste jardim de espinhos,
girando no ar que tanto amo.

* Nota da autora.
Xique-xique – nome comum do cactos Pilocereus gounellei.

terça-feira, 23 de abril de 2019

EN LUCHA CON PALABRAS POR LA PAZ DE LAS MUJERES







GARZAS BLANCAS
Texto contra la violencia religiosa a la mujer en los Conventos.

         Garzas blancas las monjas mejicanas caminan por las calles, agitando las alas. Son aves religiosas, inútiles, perplejas, porque una cadena de cuentas de rosario, encarcela en novenas todo un mundo de goces, cerrándoles los labios.
         Terribles emisarios de castigo e pecado las pones en silencio, encerradas en claustros. Pobres garcitas blancas de toca almidonada, ya no tienen guedejas que puedan sacudir. Trancadas en sus celdas, solo les queda el sueño de esperar por un hombre; un audaz adversario que lama sus heridas, que queman en su vientre como velas bandidas.
         En el Convento obscuro, en insomnio nocturno piensan alucinadas en una llaga viva, que se esconde en el pubis, como una rosa abierta. Me apenan estas monjas, sin cantos en su vida, como unas garzas blancas sobre un campo segado, van buscando alimento para encontrar heridas.
         Hoy se sabe que muchas, rezando el Padre Nuestro levantaron sus faldas, para ofrecer a un Padre, a un Obispo, a un santo cualquiera, que cínico, le arrulló al oído. Son hombres demoniacos, que obtuvieron la rosa, la santa rosa abierta que aun siendo un capullo, les florecía entre los muslos.
Y después las sacrosantas Madres, de alcurnia superior, enterraron las semillas del hurto en los patios de piedra, en el suelo sagrado bendito por Jesús, marido idolatrado.
         Hoy se han descubierto historias de Conventos que hacen aullar los lobos, que se esconden detrás de las sotanas. Hoy se abrieron las tumbas pequeñitas, se rasgaron los hábitos, se pisotearon tocas.
         No es de hoy la violencia contra las pobres mujeres trancadas en sus mitos.
         Son garzas blancas las Monjas mejicanas que sacuden sus alas, libertas de sus ritos. Y yo una visitante me conmuevo al verlas en esta tierra hermosa. En esta tierra hermosa de agaves, de misterios, de gigantes pirámides, de mariachis, de bordados perfectos coloridos, de serpientes de piedras que muestran la riqueza de la cultura azteca. 
         Recuerdo que mi madre cantaba con una bella voz, una música que decía: _”Méjico lindo y querido/ si muero lejos de ti/ que digan que estoy dormido/ y que me traigan aquí”.
         Hoy dedico a estas mujeres violadas en los templos mi pensamiento apenado: “levanten vuelo monjitas hermanas mejicanas; libérense de las cadenas engañosas de la violencia escondida detrás de algunos mantos, que nada tienen de santos. Las garzas mejicanas son bellas, levantan vuelo desde el lago con una estética impecable”.
         Vuelan alto unidas en formación. ¡Imítenlas!

Dea Coirolo.
Gravatá – PE – 23/04/2019


  
Nota de la autora: “Este texto está basado en notas que hice en Ciudad de Méjico hace mas de 20 años. Hoy encontré los apuntes guardados desde aquella época y los actualicé entendiendo que la violencia contra la mujer se encuentra en todos los espacios, domésticos, estudiantiles, profesionales y religiosos como en este caso”.
“Como Embajadora de la Paz, del Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix, France & Suise, lucho a través de las letras contra este bárbaro flagelo que no deja a las mujeres vivir em paz”.  

quarta-feira, 17 de abril de 2019

LARANJAL Município de Sairé


Este poema pertence ao Livro MANDACARU, de Dea Coirolo

No monte Boca da Mata
uma cidade surgiu
e pelos seus arredores
com essências de neróis
perfumes de brancas flores.
Flores cheirosas dão sorte
fidelidade e amor
fazendo do casamento
um estado bem melhor.
Se a noiva no ramalhete
coloca um belo buquê
de azahares delicados
embebidos de fragrância,
os capulhos aromados
envolvem os namorados
com brisas doces de fé.
As laranjas redondinhas
dão encanto a Sairé
os homens plantam e colhem
as peras e mexericas,
murcotes, cravos, baía,
lima, limão e ponkan.
As velhas tangerineiras
tingem de cor as colinas
pintam as verdes encostas
sobem os morros audazes
decoram santos outeiros
com amarelos radiantes.
Frutos maduros pendentes
dão trabalho na colheita,
os homens ganham dinheiro
e melhora o Município
de Sairé por inteiro.
Com a Festa da Laranja
música, canto, sabor.
-Um suquinho de laranja
Senhorinha por favor,
pra refrescar a garganta
e benquistar amizades
e conquistar um amor.
Assim dizem os peões
com seus ganhos bem felizes
abraçando suas paixões
para dançar um forró.
Sairé terra de amores
de alaranjadas frutíferas
de bendito ganha pão,
se destaca em Pernambuco
por produzir a ponkan,
que veio de lá da Ásia
e que aqui frutificou
dando riquezas a muitos
e para outros, sabor.
Sairé leve, aromática
terra boa de fragrância,
fascinada em tua presença
vou colheitando laranjas,
carnudos cítricos doces
que me dão boas lembranças
do quintal do meu avô,
que lá no Uruguai longínquo
nas serras do Cerro Largo
seus laranjais plantou...
Terra bonita e cheirosa
que dá laranja de umbigo,
fruta santa e mui formosa,
e as rainhas do agreste
suas laranjas mimosas!
Quando me invade
a saudade,
venho logo a Sairé
para a Festa da Laranja
ou Festa do Buscapé...

Dea Coirolo
Sairé, 10 de outubro de 2018

A NOITE DO SILÊNCIO



15/04/PARIS

Um silencioso manto
cai sobre Paris.
Só se ouvem rangidos.
São madeiras em brasas
desenhando no céu
vermelhos cocares incendidos
que iluminam a noite do espanto.
Sobem as chamas
e dançando à morte
abraçam o pináculo.
O inferno na flecha
se consuma.
Cai a tocha,
a tocha acesa
que fere a alma da França.

Feroz o fogo
por milagre não atinge
os vitrais circulares
das rosáceas.
Em outros, majestosos
de vidros coloridos,
o chumbo feito lágrimas
corre como um rio,
cinzento rio
que ferve, derretido.
Notre Dame de Paris
é uma fogueira insana
que consome seu próprio coração.
O coração religioso,
o coração artístico,
de toda uma nação.

A fumaça se eleva...
corvo gigante e preto
que adeja
as asas do infortúnio
e envenena o ar.
Paira refugo escuro
da beleza desta Catedral.
Catedral de linhas delicadas
exibe arcobotantes
do solo até a parede,
singelos e elegantes.

Displicente voa a ave negra...
Ela não tem consciência
do diabólico mal
do fogo e sua violência.
O silêncio cai sobre Paris...
Emudecem os homens
nesta noite infame;
a humanidade chora
oito séculos de história
da bela Notre Dame.

Dea Coirolo
Gravatá- PE -   15/04/2019.


quinta-feira, 11 de abril de 2019

ACOLHEDOR



 Este Brasil de um verde luxuriante
que me acolhe, no qual me enrolo
num casulo de folhas intrigantes,
onde fico dobrada em dois
e com a alma quieta,
este Brasil espera,
que eu, pequena itinerante,
como uma borboleta
abra as asas e voe.

Voe da orquídea ao Flamboyant
da bromélia ao Salgueiro,
do Manacá da Serra tricolor,
ao alto e azul Jacarandá,
do Mulungu precioso
ao Pau Brasil cheiroso!

Assim eu ando como um inseto errante,
ando de olhos abertos
com a emoção em brasa;
tempo atrás deslizei nos pampas selvagens
a lombo de cavalo
queimei-me sem água
no árido sertão,
banhei-me na areia
das dunas de Natal
e me molhei de luz
na tepidez do mar,
noturno, em Salvador.

Vesti de verde meu louco coração
na Amazônia encantada,
ficando em pé num barco
cruzando o Solimões,
onde a grandiosidade da floresta
anula a força da razão.

E me acordei vagando
em misteriosas serras
com seus cactos antigos
e suas lajes de pedra
e sua sensualidade
nas festas de São João.

Meu belo Pernambuco
há de acolher-me
quando me leve à morte,
e eu lhe deixarei
um livro de poemas,
para que saiba de todos meus amores
e também de todas minhas penas.

Dea Coirolo - copyright
Junho/29/2008 - Gravatá

Fotoweb: Manacá da Serra Tricolor



sexta-feira, 29 de março de 2019

TARDE DE FEVEREIRO NA CHUVA DA AMAZÓNIA MANAUS 1995


As folhas me olham com seus olhos verdes, alongadas esmeraldas que gotejam
com ritmo, esferas de lágrimas translúcidas.

Triste, fico ainda mais triste, e a chuva nas árvores faz uma bruma densa e dura
que veste os troncos cinzentos de gazes azuladas que me afetam.
Uma fileira de formigas sobe, lutando contra a correnteza que desce em cascata
duma Sapopemba enegrecida de musgos, que os liquens de tanto em tanto, mancham de
branco. Parecem bocas esbranquiçadas onde os insetos agegam-se para sobreviver.
Este jardim gigante que percorro, tropical e úmido, é um sonho vivo e latejante
que impõe sua grandeza vegetal.

Humana, pequena e triste, olho para este teto de quarenta, cinquenta ou mais
metros de altura e me assombro! Este teto que pela vida cresce e sobe à luz do sol, foge
em direção ao azul. A floresta amazônica invade os espaços livres, pequenas ilhotas de
solo, que também são parte dela. A vegetação selvática imprime um não sei o quê, de
gladiador faminto e me engole.

Estes milhares de tons onde o verde impera, impacta pela variedade, grandeza e
claro escuro. A chuva torrencial é um elemento a mais neste quadro impressionista ao
relento. Do cimo de cada árvore correm rios verticais e paralelos, que desembocam num
imenso igarapé, que pouco a pouco vai se formando a seus pés.

A tormenta tropical é um fenômeno belo e apavorante onde os trovões ressoam
como canhões de guerra; tum, tum, tum, um atrás do outro, interrompendo o silêncio da
mata, como também os gritos e sussurros da fauna. Os relâmpagos jogam dardos de luz,
direto no topo das árvores maiores, e uma energia incendiária desce veloz.

A tristeza dá lugar ao temor da floresta inundada, da que às vezes não se consegue
sair. Volto passo a passo pelo caminho andado buscando refúgio e calor no barco
ancorado na costa do Rio Solimões. Estou molhada e com frio. Cheguei.

Dea Coirolo - Copy Right 
Manaus – AM 1995




JACARANDÁS

Melo é a capital de Cerro Largo perto da cidade onde nasci. Como não belas estas árvores maravilhosas de JACARANDÁS, que pintam as calçadas de violeta? Minha infância retorno com cores e aroma que ficaram guardados nos meandros da memória. Uma fotografia acorda cofres de células e retalhos de dormidas percepções tomam forma, corpos insubmissos sem tempo, que na realidade estão sempre presentes. Gigantes JACARANDÁS, refrescam os calores do verão, com suas enormes copas verde escuro. Suas flores violetas assemelham-se a borboletas e fazem um edredom de pétalas que pisamos com os pés infantis descalços. As essências vegetais penetram nas narinas proporcionando um intenso prazer olfativo. Volto a ser menina, correndo sob as árvores e escutando a voz de minha madrinha Daisy me chamando: -Vamos embora Deita, para de sonhar, é tarde! Uma foto como esta de hoje, de árvores floridas, pode ser um mundo aberto ao passado. Dea Coirolo - Copy Right Gravatá – PE. 2019


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

LISBOA - POEMA DE DEA COIROLO


Dedicado a todos meus amigos portugueses.
                       
Lisboa se debruça
nas beiras do rio Tejo,
se veste de ferro
de ferro rendilhado
com grades curvilíneas
que em arabescos brilham.
Pela manhã,
Lisboa desperta colorida
com tons de azul do céu,
na arte milenar do azulejo,
nas mesas de café
com brancas toalhas
e faiança azulada.
Se perfuma Lisboa
nos jardins,
de antigos casarões
com muros abraçados,
por rosas trepadeiras
e jasmins.
À noite,
lá nos altos da Alfama
canta Lisboa, canta.
Canta seus tristes fados
contando histórias
de amor, desencontrado.
E em seus Mosteiros,
de mármore esculpidos
em belos recortes
e ornamentos
reza Lisboa, reza.
Rezam de luto
velhas mulheres velhas.
São flores murchas
figuras lisboetas sacrossantas
de joelhos dobrados,
que acreditam que podem
_exorcizar pecados...



Dea Coirolo.  Lisboa, 1995/Gravatá/2014.

LA VESTAL

Musa de 29 fuegos 
Compiladora: MAR BARRIENTOS

Libro - homanaje a Matilde Zuñiga la pintora mexicana
Academia Mexiquense de Literatura Moderna - AMELIM

Biblioteca latinoamericana de literatura moderna
Programa editorial Sagitario


Pintura de Matilde Zúñiga - LA VESTAL

Poema de Dea Coirolo


Con  el fuego sagrado entre las manos
soy la que ha de conservarse limpia y pura,
soy también una brasa encendida,
que arde por dentro
quemando de pasión y de locura.
Este fuego eterno que mantengo
arde en mis vísceras por un amor prohibido
que hace llamas mi alma, de sacerdotisa…
Ah… Que amor tan pérfido y perdido!
Apenas he de ser la infértil profetisa
una mujer estéril en la que nunca, nunca,
habrá de tocar su oculto amado.
Ni acariciará con ternura infinita
mis sueltas madejas, ni tampoco,
jamás, deshacerá mis perfectas trenzas!
Y el deseo por el hombre,
deberá arder como magma encendido,
consumiendo de pena mis sentidos.
Castidad de Vestal es un castigo
que arrastra en lava hirviente ángeles rojos
y todos mis blancos y perfumados lirios…
Por no poder amar yo me consumo
y el mismo fuego que guardo eternamente
se ha de volver cenizas, secas y crujientes.
Condenada estoy a vivir sin gemidos
por este casto amor, mortal y penitente.

Dea  Coirolo 
21/12/2017
Gravatá – Pernambuco – Brasil.

Referencias de la autora

Dea Coirolo, poeta uruguaya/brasilera, miembro de la União Brasileira de Escritores, de la Academia de Letras e Artes de Gravatá y otras, fue Periodista corresponsal internacional del Diario El Telégrafo (Uruguay).Obras publicadas en Uruguay, Brasil, España, Cuba etc. Hoy vive en Pernambuco-Brasil. Coautora de Musa de 29 Fuegos, pags. 17 y 18 editado en Mexico en 2018.