MEMÓRIA DE MINHA
INFÂNCIA
Uma memória da
infância, das mais belas e prazerosas, aparece na foto que ilustra este relato.
Meus pais levaram a Norma e a mim, para passear no Cerro de Montevideo. Fomos
de piquenique, com comida fria preparada pela mamãe. Lembro das milanesas
crocantes, douradas, dentro de fatias de pão caseiro, com grossas rodelas de
tomate americano bem maduro, bem vermelho, suculento e com sal. Lembro da
alegria de compartilhar o almoço, com a família unida, rindo, conversando e
festejando o momento mágico.
Do Cerro, à margem
do Rio da Prata para o sudeste, víamos toda a cidade, a baia, o porto com
grandes navios e o prédio da aduana. Para o sudoeste, o Cerro desce até quase
às águas do rio, e assim se formam pequenas praias de areias branquinhas muito
finas, com manchas coloridas de pequenos barcos de pescadores, que naquela
época (aproximadamente no ano de 1952/53) tinham suas vilas muito perto.
Alguns salgueiros
“chorões” botavam na paisagem seu encanto verde, de longe em longe,
espaçados... descendo para a prainha, ainda no Cerro, muita pedra, muito canto
rodado, que juntávamos para brincar. Papai nos fez olhar para o topo do Cerro,
e lá tinha uma construção branca, de grandes rochas na base, o Forte, monumento
histórico que fazia voar nossa imaginação. Lembro que papai me falou que dali
se vigiava a chegada dos navios e que antigamente havia canhões para a defesa
da capital.
Eu achava meu pai
muito bonito, e acreditava que ele sabia de tudo. As gaivotas sobrevoavam o Rio
da Prata, e uma grande ave passou perto de nós. Ele gostava de nos ensinar
sobre os mistérios da natureza, e um dos temas que lhe fascinava, era a época
dos dinossauros. Vendo a gaivota, disse-me que ela, muito tempo antes, tinha um
antecessor chamado “Pterodáctilo”, com asas de couro, sem penas, enorme, com um
bico gigantesco. Eu era uma menina curiosa, sonhadora, e logo imaginei aquele
animal esquisito da pré-história. Rimos muito, tanto minha irmã como eu tentando
repetir o nome do bicho. Ele deu uma gargalhada sonora que fez eco na altura, e
nos dando uma mão a cada uma, foi nos cuidando amorosamente para não cair na
descida do Cerro.
Mamãe era sempre a
fotografa da família. Tinha uma maquinha preta, como uma pequena caixa, que
usava com excelente resultado. Ela adorava registrar momentos da vida da
família, e rindo, pediu a papai para deter-se, e ela descer um pouquinho para
fazer uma foto desse momento inolvidável, quando vimos pela primeira vez que as
aves se originaram daqueles répteis voadores. Papai nos parecia um sábio...
mamãe tirou essa foto tão linda dele conosco, suas filhinhas, Moñita e Deita.
Finalizamos o
passeio à tardinha, devorando “pasteis folhados”, recheados de goiabada, que
mamãe fazia como ninguém, e nos refrescando com um copo de coca cola. Eles dois
tomavam chimarrão amargo, para contrastar com a doçura dos pasteis. Assim,
guardo na memória afetiva esta foto de nosso passeio ao Cerro de Montevideo, de
nosso lindo e sabido pai, e das iguarias que mamãe preparava para deleite de
todos nós.
Esqueci de dizer
que ela tinha feito esses vestidinhos preciosos que vestíamos, com florezinhas
e rendas de cor celeste o de Moñita, e com cerejas estampadas, o meu, e que ela
tinha forrado com linha de seda vermelha, umas bolinhas de madeira, imitando
cerejas, que pendiam de um cordãozinho verde. Eu adorava ver o movimento das
cerejinhas de madeira. Este vestido foi um dos que mamãe me fez e que nunca
esquecerei.
Minha irmã Norma e
eu, tivemos uma infância feliz, graças a Deus, e a eles dois. Que o Senhor lhes
guarde juntos, como tanto desejaram...
Dea Coirolo Copyright
14/08/2019
Gravatá - PE