sexta-feira, 17 de maio de 2019

XIQUE-XIQUE* NA SERRA DAS RUSSAS


Poema de Dea Coirolo - XIQUE-XIQUE NA SERRA DAS RUSSAS




Chove e o agreste reverdece
explode nos delicados cactos
onde fortes espinhos aparecem.
Os “sete dedos” brilham,
sustentam uma rede
de translúcidas gotas.
Destacam-se por sobre os granitos
pontos de cor magenta,
roxos e amarelados,
cobrindo os alcantilados
misteriosos e escuros
nas alturas da serra.
Flores...
Flores quase vermelhas, quase violetas,
pontos que mudam de cor,
pequenas asas de borboletas
fulguram à luz do sol. 
Xique-xique, conjunto vertical
de obeliscos hirsutos verde vivo.
Cactos antigos crescendo na Russinha,
rígidos, pré-históricos, estáticos,
vegetais vilosos e selvagens
que a seca não consegue exterminar.
Gloriosa hoje a chuva que lhes faz
espetáculo, pintura e muito mais.
Natureza em flor, impressionismo.
Sacrossanta viagem até a cor.
Em êxtase contemplo esta paisagem,
e um profundo suspiro de deslumbramento
escapa da minha alma de mulher,
que vagando no agreste encontra
beleza colorida em um lugar qualquer.
Eu sinto pulsar meu coração nesta terra
e prego meus pés no chão pernambucano.
Talvez no tempo de desencarnar
eu seja um espírito errático, arcano,
e voe como galo de campina
neste jardim de espinhos,
girando no ar que tanto amo.

* Nota da autora.
Xique-xique – nome comum do cactos Pilocereus gounellei.