sexta-feira, 29 de março de 2019

TARDE DE FEVEREIRO NA CHUVA DA AMAZÓNIA MANAUS 1995


As folhas me olham com seus olhos verdes, alongadas esmeraldas que gotejam
com ritmo, esferas de lágrimas translúcidas.

Triste, fico ainda mais triste, e a chuva nas árvores faz uma bruma densa e dura
que veste os troncos cinzentos de gazes azuladas que me afetam.
Uma fileira de formigas sobe, lutando contra a correnteza que desce em cascata
duma Sapopemba enegrecida de musgos, que os liquens de tanto em tanto, mancham de
branco. Parecem bocas esbranquiçadas onde os insetos agegam-se para sobreviver.
Este jardim gigante que percorro, tropical e úmido, é um sonho vivo e latejante
que impõe sua grandeza vegetal.

Humana, pequena e triste, olho para este teto de quarenta, cinquenta ou mais
metros de altura e me assombro! Este teto que pela vida cresce e sobe à luz do sol, foge
em direção ao azul. A floresta amazônica invade os espaços livres, pequenas ilhotas de
solo, que também são parte dela. A vegetação selvática imprime um não sei o quê, de
gladiador faminto e me engole.

Estes milhares de tons onde o verde impera, impacta pela variedade, grandeza e
claro escuro. A chuva torrencial é um elemento a mais neste quadro impressionista ao
relento. Do cimo de cada árvore correm rios verticais e paralelos, que desembocam num
imenso igarapé, que pouco a pouco vai se formando a seus pés.

A tormenta tropical é um fenômeno belo e apavorante onde os trovões ressoam
como canhões de guerra; tum, tum, tum, um atrás do outro, interrompendo o silêncio da
mata, como também os gritos e sussurros da fauna. Os relâmpagos jogam dardos de luz,
direto no topo das árvores maiores, e uma energia incendiária desce veloz.

A tristeza dá lugar ao temor da floresta inundada, da que às vezes não se consegue
sair. Volto passo a passo pelo caminho andado buscando refúgio e calor no barco
ancorado na costa do Rio Solimões. Estou molhada e com frio. Cheguei.

Dea Coirolo - Copy Right 
Manaus – AM 1995




JACARANDÁS

Melo é a capital de Cerro Largo perto da cidade onde nasci. Como não belas estas árvores maravilhosas de JACARANDÁS, que pintam as calçadas de violeta? Minha infância retorno com cores e aroma que ficaram guardados nos meandros da memória. Uma fotografia acorda cofres de células e retalhos de dormidas percepções tomam forma, corpos insubmissos sem tempo, que na realidade estão sempre presentes. Gigantes JACARANDÁS, refrescam os calores do verão, com suas enormes copas verde escuro. Suas flores violetas assemelham-se a borboletas e fazem um edredom de pétalas que pisamos com os pés infantis descalços. As essências vegetais penetram nas narinas proporcionando um intenso prazer olfativo. Volto a ser menina, correndo sob as árvores e escutando a voz de minha madrinha Daisy me chamando: -Vamos embora Deita, para de sonhar, é tarde! Uma foto como esta de hoje, de árvores floridas, pode ser um mundo aberto ao passado. Dea Coirolo - Copy Right Gravatá – PE. 2019